Avançar para o conteúdo principal

Treinar até à Falha Atrasa a Recuperação?

O treino resistido é o principal estímulo para a ocorrência de adaptações fisiológicas que se traduzam em ganhos de força e de massa muscular.

Dentro das variáveis relacionadas com o treino resistido que é possível manipular, conduzir as séries até perto da falha, ou mesmo até à falha muscular, é considerada uma das principais.

Até então, este tópico havia recebido pouca atenção por parte da comunidade académica, mas recentemente foi publicado um estudo que abordou o tema.

Os investigadores desse estudo procuraram determinar os efeitos do treino até à falha na recuperação muscular, tanto a nível agudo, como de forma mais prolongada.

Para o efeito, foram recrutados dez homens com experiência de treino resistido, sendo que todos realizaram três protocolos de treino resistido distintos, executando os exercícios supino e agachamento completo.

  • 3 séries de 5 repetições a 75% de 1RM (sem ir até à falha).
  • 6 séries de 5 repetições a 75% de 1RM (sem ir até à falha).
  • 3 séries de 10 repetições a 75% de 1RM (até à falha).

O período de descanso entre séries foi de 5 min, e cada treino foi separado por um período de 4 semanas.

Os autores deste trabalho avaliaram diversos parâmetros mecânicos e bioquímicos em sete pontos do tempo (desde -12 h até + 72 h pós-exercício).

Os indicadores mecânicos de performance neuromuscular usados foram a altura de salto vertical contramovimento, a velocidade de movimento contra uma carga que permitia uma velocidade de propulsão média de 1 metro/segundo, e a execução do supino e agachamento a 75% de 1RM.

Acerca dos resultados, verificou-se que treinar até à falha muscular em cada série (3x10), mesmo quando comparada com o mesmo volume total de exercício (6x5), resultou num maior declínio agudo no salto vertical contramovimento, na velocidade contra uma carga e nos exercícios supino e agachamento.

Em contraste, e em comparação com o treino até à falha (3x10), a recuperação foi significativamente mais rápida entre as 24 e 48 horas pós-exercício quando os voluntários executaram os exercícios com os protocolos de treino 3x5 e 6x5.

Os marcadores bioquímicos agudos (amónia, hormona de crescimento) e prolongados (creatina quinase) de fadiga, apresentaram cursos de recuperação marcadamente diferentes entre protocolos, e também sugerem que o treino até à falha atrasa a recuperação até 24-48 horas após o exercício.

Estes investigadores concluíram:

O treino resistido conduzido até à falha aumenta de forma considerável o tempo necessário para a recuperação da função neuromuscular e homeostase metabólica e hormonal. Evitar a falha permite que os atletas permaneçam numa melhor condição neuromuscular para realizar uma nova sessão de treino ou participar numa competição num curto período.

Fonte!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ...

Quantidades Mais Elevadas de Proteína Afetam Negativamente a Saúde a Longo Prazo?

Afirma-se com alguma frequência que ingestão de quantidades relativamente mais elevadas de proteína tem um impacto negativo na saúde, sobretudo a médio-longo prazo.  Entre os putativos efeitos negativos temos, por exemplo, perturbações a nível renal, problemas cardiovasculares, maior probabilidade de problemas de saúde na velhice incluindo menor saúde metabólica, menor longevidade e outros.( 1 )  Mas será que uma maior ingestão de proteína realmente prejudica a saúde a longo prazo?  Kitada et al. (2024)  Recentemente, foi publicado um estudo que pretendeu avaliar os efeitos da ingestão de proteína a longo prazo, no envelhecimento de 3721 mulheres que participaram no famoso estudo prospetivo Nurses Health Study.  Mais precisamente, estes investigadores pretenderam testar a hipótese de que uma ingestão mais elevada de proteína se associa a uma maior probabilidade de envelhecimento saudável.  Neste caso, envelhecimento saudável correspondia a uma boa saúde me...

Os BCAAs São Úteis Para Praticantes de Musculação?

Pode-se afirmar que os aminoácidos representam os blocos de construção do músculo esquelético e de outras proteínas que integram o corpo humano.  De um total de 20 diferentes aminoácidos que podem formar as diversas proteínas presentes no corpo humano, 9 são considerados “aminoácidos essenciais” por não poderem ser sintetizadas nos tecidos corporais e têm obrigatoriamente de ser obtidas a partir da dieta.  No conjunto de 9 aminoácidos essenciais incluem-se os aminoácidos de cadeia ramificada. São eles a leucina, isoleucina e valina, e constituem cerca de 14% do total de aminoácidos que constituem as proteínas do músculo esquelético.  Os aminoácidos de cadeia ramificada, ou BCAAs, são dos suplementos mais consumidos (36,8%) pelos portugueses que frequentam os ginásios.  A sua popularidade baseia-se na crença, alimentada por campanhas de marketing financiadas por empresas de suplementos, de que os BCAAs têm propriedades anabólicas e anti-catabólicas. Kaspy et al. (2023...