No entanto, nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de pessoas que considera que o consumo de lacticínios está associado ao aparecimento ou agravamento do acne vulgaris. Será verdade que o leite e seus derivados realmente provocam ou agravam a acne?
Os lacticínios provocam acne?
A literatura científica atual admite que sim! Vários estudos comprovaram que a ingestão de leite e dos seus derivados pode realmente provocar e agravar a acne, principalmente nos adolescentes (2-7) e sobretudo quando se ingere mais de 3 porções de leite por semana (4).
Na verdade, até a Nestlé, um verdadeiro gigante da indústria alimentar, refere que os lacticínios provocam acne explicando ainda os mecanismos através dos quais isso acontece (8).
Também há que referir que a acne é considerada uma doença da civilização moderna e que as sociedades mais “primitivas” como os Kitava, que seguem um regime alimentar do tipo paleolítico no qual os lacticínios se encontram ausentes, não sofrem de acne (9, 10).
Como é que os lacticínios provocam acne?
O leite pode ser considerado um alimento “vivo” na medida em que contém hormonas e outros compostos bioactivos que podem ter uma influência notória no corpo humano.
Como exemplo, atualmente sabemos que o leite de vaca pasteurizado contém cerca de 245 microRNAs que o ser humano pode absorver e que podem afetar a expressão de mais de 11,000 genes (11).
Verificou-se também que a adição de leite à dieta de crianças, que até aí não ingeriam leite de forma habitual, provoca um aumento da produção endógena de Hormona de Crescimento (12).
O leite e o iogurte são também dos alimentos que mais elevam os níveis de insulina e de IGF-1. Ora a presença de níveis elevados dessas duas hormonas está estreitamente associada a uma maior prevalência de acne (12-15), e vários autores consideram que o IGF-1 desempenha um papel central na etilogia da acne (16).
Note que a ingestão de suplementos de proteína de lacticínios, tais como a proteína de soro de leite (proteína whey), também agrava a acne, sendo mesmo considerada o constituinte do leite que mais eleva os níveis de insulina (17).
Isto explica-se em parte devido ao fato das proteínas do leite conterem uma elevada quantidade de aminoácidos ramificados (leucina, isoleucina e valina) que promovem a secreção de insulina, que por sua vez também promove a libertação de IGF-1 pelo fígado (8).
Outros aspetos da alimentação que influenciam a acne
Sinto que tenho o dever de informar o leitor que os lacticínios não são a única variável nutricional que pode influenciar ou agravar a acne. Existem várias outras como:
Açúcares adicionados e Hidratos de carbono refinados: Verificou-se que ingestão de açúcares e de cereais refinados, especialmente aqueles de índice glicémico mais elevado, está estreitamente relacionada a uma maior prevalência de acne. Observou-se ainda um agravamento da acne no contexto de dietas com um índice glicémico elevado e ainda com uma carga glicémica elevada (6, 18, 19).
Gorduras: Ingestão excessiva de gordura saturada, de ácidos gordos ómega-6, juntamente com uma ingestão insuficiente de ácidos gordos ómega-3 parece promover a acne (16, 20). A ingestão de gorduras trans (ácido elaídico), um tipo de lipídeo artificial, produzido pela indústria alimentar, também poderá agravar a acne (16).
Proteína: A ingestão excessiva de proteína, sobretudo a de origem animal poderá agravar a acne. Verificou-se ainda que as dietas pobres em proteína reduzem os níveis de IGF-1 e possivelmente a acne (21).
Mudanças alimentares: Mudou recentemente de dieta ou segue um padrão alimentar irregular? Isso poderá ser o suficiente para despoletar um episódio de acne ou agravar a acne já existente (7).
Como pode ver, os lacticínios não são o único fator que exerce influência no acne vulgaris e por esse motivo será boa ideia considerar a dieta no seu todo antes de se eliminar completamente os lacticínios da alimentação ou de efetuar mudanças alimentares drásticas.
O que fazer para minimizar a acne?
Se sofre de acne, o melhor será mesmo consultar um dermatologista e também um nutricionista, que o irão ajudar a resolver esse problema de pele da forma mais eficiente e segura possível.
Seja como for, fique a saber que existem algumas estratégias alimentares que poderão efetivamente ajudá-lo a aliviar ou até mesmo a resolver este problema de pele (16, 20, 22).
- Reduzir ou eliminar a ingestão de lacticínios adotando, por exemplo, uma dieta do tipo paleolítico, que é caracterizada pela ausência de lacticínios, cereais e outros alimentos processados/refinados.
- Em alternativa, adotar a dieta mediterrânica, que pressupõe um consumo modesto de lacticínios e a ingestão de cereais integrais em vez de refinados.
- Seguir uma dieta isenta de açúcares e de hidratos de carbono refinados, com um baixo índice glicémico e com baixa carga glicémica.
- Reduzir a ingestão de gorduras saturadas, de ácidos gordos ómega 6 e aumentar a ingestão de ácidos gordos ómega 3, dando preferência ao peixe em detrimento de carnes e outras fontes de proteína rica em gordura saturada.
- Evitar a ingestão de gorduras trans artificiais.
Conclusão
Está comprovado que a alimentação pode ter uma grande influência nesta doença de pele que é acne. No entanto, antes de começar a modificar a sua alimentação, seria boa ideia consultar o seu médico, até porque a acne pode ser provocada ou influenciada por vários outros fatores, incluindo a toma de medicamentos como antidepressivos, corticosteroides, e vários outros fármacos (23). Na verdade, a simples exposição a níveis mais elevados de stress pode ser o suficiente para agravar a acne (24).
Volto também a sublinhar a necessidade de requerer o apoio de um nutricionista, para que este lhe possa prescrever uma dieta adequada ao seu problema de pele (se for esse o caso), e que ao mesmo tempo satisfaça as suas necessidades nutricionais, sem colocar em risco a sua saúde.
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
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