Os adoçantes ou edulcorantes artificiais continuam a ser um tema de saúde pública bastante controverso e ainda hoje continuam a ser realizadas investigações relacionadas com este tipo de substâncias.
De fato, foi publicado recentemente um novo estudo acerca do efeito positivo dos adoçantes artificiais na perda de peso (1) e nos EUA foi aprovado um novo tipo de adoçantes artificial chamado Advantame (2).
Por um lado, temos um grande número de pessoas que se opõem de forma contra o consumo de adoçantes artificiais devido à sua suposta associação a um aumento do risco de desenvolvimento de cancro e de outras doenças.
E por outro lado, o consumo de adoçantes artificiais, que incluem a sacarina, o ciclamato de sódio, aspartamo, acesulfame de potássio e neotame, tem vindo a aumentar e a tornar-se cada vez mais popular à medida que também aumenta o número de pessoas que querem perder peso.
Mas será que adoçantes artificiais realmente aumentam o risco de cancro ou de outras doenças? Será que ajudam a perder peso, ou será dificultam ainda mais?
Cancro
Os adoçantes artificiais foram associados pela primeira vez a aumento do risco de cancro nos anos 70, após um estudo ter demonstrado que a combinação de sacarina com ciclamato de sódio provocou cancro da bexiga em ratos de laboratório.
Mais tarde descobriu-se que os mecanismos por detrás desse efeito eram específicos para ratos e não ocorriam noutros animais e nos seres humanos. Para além disso, outros estudos realizados posteriormente demonstraram que nenhum desses dois adoçantes é cancerígeno (3, 4).
No entanto, esse estudo lançou uma sombra de dúvida em relação adoçantes artificiais e devido a isso os edulcorantes artificiais ficaram com má fama e a sua reputação nunca voltou a melhorar.
Mais tarde foi realizado outro estudo que sugeriu uma associação entre o consumo de aspartamo e tumores cerebrais .
Os autores basearam esta hipótese no fato do cancro do cérebro ter aumentado desde 1980, juntamente com o aumento do consumo de aspartamo – isto apesar dos investigadores não saberem se as pessoas que desenvolveram cancro do cérebro adoçantes artificiais – e num estudo realizado com ratos no qual as dietas suplementadas com aspartamo conduziram à formação de tumores no cérebro (5).
Esta suposta associação foi mais ou menos anulada pela comunidade científica porque três estudos posteriores não encontraram qualquer associação entre o consumo de aspartamo e os tumores no cérebro, e estudos animais realizados depois, não foram capazes de replicar os tumores induzidos pelo aspartamo que se verificaram no estudo original com ratos (6).
Para além disso, os adoçantes artificiais também já foram relacionados com o desenvolvimento do linfoma e da leucemia, e um estudo observacional descobriu uma associação fraca entre o consumo de adoçantes artificiais e o desenvolvimento do linfoma não-Hodgkin e mieloma múltiplo nos homens, mas não em mulheres (7).
Os autores do estudo concluíram que, devido à inconsistência dos seus resultados, é pouco provável que exista uma relação causal.
Os adoçantes artificiais também já foram testados para associações com outros tipos de cancro, tal como o cancro da mama, do pâncreas, do estômago, do cólon e endométrio, sendo que não foram encontradas correlações (8).
Com base nestas evidência, pode-se concluir que é pouco provável que adoçantes artificiais constituam um grande fator de risco para o desenvolvimento de cancro.
Diabetes e problemas cardiovasculares
Os adoçantes artificiais também já foram associados a um aumento do risco de desenvolvimento da síndrome metabólica e de doenças relacionadas, tais como a diabetes e as doenças cardiovasculares.
Numerosos estudos observacionais tentaram encontrar uma associação consistente com o risco desses doenças, mas para cada estudo que encontrou uma associação entre o consumo de adoçantes artificias e a síndrome metabólica, problemas cardiovasculares ou diabetes, existe um outro estudo que não encontrou qualquer associação (9, 10, 11).
Este inconsistência não é de surpreender, dada as limitações inerentes aos estudos observacionais, mas uma vez que existem poucas ou nenhumas provas clínicas em seres humanos para testar essas hipóteses, o efeito do adoçantes no aumento do risco para essas doenças permanece inconclusivo.
Parto prematuro
Nos últimos anos têm aumentado as preocupações em relação a uma potencial associação entre o consumo de adoçantes artificiais e o parto prematuro, sobretudo devido a dois estudos observacionais publicados em 2010 e 2012 (12, 13).
No entanto, esses estudos têm limitações significativas: as associações são fracas e não são dependentes da dose; nem todas as bebidas adoçantes artificiais foram analisadas; e as mulheres que consumiam maiores quantidades de bebidas com adoçantes artificias também tinham tendência a fumar mais, tinham um Índice de Massa Corporal mais elevado e pertenciam a um nível socioeconómico mais baixo (14). De uma forma geral, os riscos parecem ser bastante reduzidos.
Perda de peso
Para a maioria das pessoas, a principal motivação para consumir adoçantes artificiais é o desejo de reduzir o consumo de calorias e perder peso. Mas será que adoçantes artificiais realmente ajudam a atingir esse objetivo.
Mais uma vez, as evidências existentes em relação a este tema também não são conclusivas.
Já foi realizado um número decente de investigações clínicas que testaram os efeitos dos adoçantes artificiais na perda de peso.
Num estudo, um grupo de voluntários com excesso de peso recebeu suplementos de sacarose ou de adoçantes artificiais durante 10 semanas.
No final do estudo, os voluntários do grupo que recebeu adoçantes artificiais tinha obtido uma maior redução do peso, massa adiposa e da pressão arterial, enquanto o grupo da sacarose ganhou peso e aumentou a pressão arterial (15).
Um outro estudo também encontrou efeitos surpreendentemente positivos com o consumo adoçantes artificiais: Ao longo de um período de 12 semanas, os voluntários foram instruídos a beber 680 ml de bebidas adoçadas com adoçantes artificiais por dia e obtiveram uma maior perda de peso do que os voluntários que apenas ingeriram água. (16).
Outros estudos também revelam que o consumo de adoçantes artificiais (geralmente em forma de bebidas) pode reduzir o consumo de calorias e promover perda de peso (17, 18, 19).
Com base nestas evidências, parece que adoçantes podem ser úteis para ajudar a perder peso, sobretudo nos indivíduos que sofrem de excesso de peso.
Os adoçantes artificiais “confundem” o corpo?
Normalmente os adoçantes estão associados a alimentos com uma elevada densidade calórica.
Se os nossos recetores de sabor doce evoluíram principalmente para nos ajudar a identificar fontes alimentares ricas em calorias, como é que será que o nosso corpo ou o cérebro desponde quando os nossos receptores de doces estão constantemente a ser ativados por adoçantes artificiais, sem qualquer conteúdo de calorias?
Já foram realizados dois estudos interessantes que usaram exames de ressonância magnética para registar a resposta do cérebro a soluções de sacarose, indicam que os adoçantes ou adoçantes artificiais podem alterar a resposta do cérebro aos sabores doces em seres humanos.
Um estudo verificou que as pessoas que ingerem com frequência bebidas adoçadas adoçantes artificiais obtinham uma “recompensa” mais elevada à sacarina e à sacarose, em comparação com as pessoas que não consumiam adoçantes artificiais (20).
Para além disso, as pessoas que não adoçantes artificiais têm respostas cerebrais diferentes à sacarina e à sacarose, enquanto aqueles que ingerem adoçantes artificiais com frequência responderam da mesma forma a ambos os tipos de adoçantes.
Outro estudo também verificou que a resposta das amígdalas cerebelosas ao consumo da sacarose pode diminuir com o consumo continuado de adoçantes artificiais (as amígdalas cerebelosas são uma parte do cérebro que também está relacionada com a identificação do sabor dos nutrientes) (21).
Conclusão
Do meu ponto de vista, as evidências científicas existentes parecem sugerir que o consumo adoçantes ou adoçantes artificiais de uma forma geral é seguro e que até pode ajudar as pessoas que têm excesso de peso a perdê-lo com maior rapidez, ou a tornar as dietas menos difíceis de cumprir.
Mas também é a minha opinião que, em termos de escolhas adoçantes, o leitor faria melhor em dar preferência a adoçantes de origem natural, tal como o Stevia, o Xilitol, Eritritol e o Xarope de Yacon.
Está comprovado que, para além de auxiliarem na perda de peso, estes adoçantes também podem beneficiar a saúde de várias outras formas.
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