Avançar para o conteúdo principal

Óleo de Peixe para Hipertrofia

A grande maioria dos suplementos que se encontram à venda no mercado têm objetivos específicos.

Como por exemplo os termogênicos são utilizados para promover a perder gordura, a creatina é usada para hipertrofia muscular, etc.

No entanto existem algumas poucas exceções e o óleo de peixe é uma delas.

Já quase todos nós conhecemos os efeitos benefícios que o óleo de peixe proporciona, especialmente na saúde do sistema cardiovascular, mas sabia que também pode promover a hipertrofia muscular?

Óleo de peixe para promover a hipertrofia muscular? Provavelmente nunca tinha pensado que este suplemento mais indicado para melhorar a saúde geral pudesse servir para ganhar mais massa muscular, mas os dados científicos parecem indicar que isso é perfeitamente possível.

Efeitos anti-catabólicos do óleo de peixe

A proteína muscular passa por um processo contínuo de síntese (anabolismo) e degradação (catabolismo).

Num estado saudável, os processos anabólicos e catabólicos encontram-se equilibrados de forma a manter a estabilidade ou até para aumentar a massa muscular (tal como acontece quando se combina o treino de musculação com a nutrição adequada).

O catabolismo do tecido muscular é comum em determinados estados clínicos como a diabetes, falha renal, queimaduras, trauma e cancro, bem como durante perdas de peso induzidas pela dieta e outras condições stressantes (1, 2, 3, 4, 5, 6).

Durante esses estados catabólicos, a degradação de proteína muscular excede a síntese de proteína muscular, o que resulta na perda de massa muscular e posteriormente fraqueza física.

O catabolismo da proteína muscular é provocado sobretudo pelo sistema ubiquitina-proteassoma (3, 6, 7, 8, 9, 10, 11). E é aqui que o óleo de peixe entra em cena, uma vez que o ácido gordo EPA diminui a atividade do sistema de catabolismo muscular ubiquitina-proteassoma (2, 4, 5, 12, 13, 14, 15, 16).

Outro mecanismo através do qual o óleo de peixe exerce os seus efeitos anti-catabólicos é através da redução dos níveis de cortisol (17, 18).

Como já se sabe, o cortisol degrada tecido muscular (19) e provoca um conjunto de outros efeitos negativos quando se encontra a níveis elevados de forma crónica, por isso este é um efeito benéfico do óleo de peixe para além do anti-catabolismo.

Efeitos anabólicos do peixe

O que torna o óleo de peixe especialmente interessante é que parece promover o crescimento muscular não só através da inibição do catabolismo muscular, mas também através do estímulo do anabolismo muscular.

Estudos recentes mostraram que a suplementação durante 8 semanas com 4 gramas por dia de concentrado de óleo de peixe, que forneceu uma dose diária de 1,86 g de EPA e de 1.5 g de DHA, aumentou de forma significativa a resposta anabólica da síntese de proteína muscular para aminoácidos e insulina (20).

Foi demonstrado que esse aumento da resposta anabólica para aminoácidos e insulina foi devido ao aumento da ativação dos caminhos de sinalização mTOR/p70S6K, que é considerado um ponto de controlo integral para o anabolismo da proteína muscular (21) e crescimento das células musculares (22, 23, 24, 25).

É provável que existam outros mecanismos que também contribuem para isso. O mesmo estudo demonstrou que a suplementação de óleo de peixe em voluntários saudáveis com 25-45 anos duplicou a proporção de EPA, DPA (um outro tipo de ácido gordo ômega-3 menos conhecido) e DHA nas membranas das células musculares, à custa das concentrações de ácidos gordos omega-6 e monoinsaturados, sem mudanças nos saturados (20).

Portanto é possível que a suplementação de óleo de peixe influencie os caminhos de sinalização anabólica ao afetar a composição dos lípidos das membranas ou da sua fluidez (26, 27, 28, 29).

O óleo de peixe pode realmente promover uma maior síntese de proteína muscular.[/caption]

Já tem mais de 45 anos? Não se preocupe, mesmo assim ainda irá poder beneficiar dos efeitos anabólicos do óleo de peixe.

A mesma equipa de investigação conduziu outro estudo, usando um protocolo de investigação idêntico (1.86 g de EPA e 1.5 g DHA durante 8 semanas) em idosos saudáveis com mais de 65 anos.

Os idoso tiveram os mesmos resultados que os voluntários jovens; a suplementação com óleo de peixe aumentou de forma significativa a síntese de proteína muscular em resposta aos aminoácidos e insulina (30).

Assim sendo, o óleo de peixe parece ser capaz de atenuar a resistência anabólica associada com a velhice (31, 32, 33). Os investigadores ficaram tão impressionados com a resposta que concluíram que o óleo de peixe pode ser útil para a prevenção e tratamento da sarcopénia (30).

Infelizmente os investigadores não mediram a massa muscular nessas intervenções, até porque duraram apenas 8 semanas. No entanto, esses resultados são promissores tendo em consideração que as mudanças no metabolismo da proteína muscular precedem as  mudanças correspondentes na massa muscular (34, 35, 36).

Conclusão

Quer pretenda ganhar massa muscular ou prevenir a perda de massa muscular durante uma dieta, os dados científicos suportam a adição do óleo de peixe ao seu regime de suplementação.

O óleo de peixe, e especialmente o EPA, não só contraria a perda de massa muscular detrimental que observamos em estados catabólicos e de stress, como também potencia a resposta anabólica ao estímulo nutricional em músculos saudáveis de adultos jovens e idosos.

Portanto afeta de forma positiva ambos os estados catabólicos e anabólicos da equação do equilíbrio de proteína muscular.

Os estudos realizados até à data usaram uma dose de óleo de peixe que corresponde a 1,86 g de EPA e 1.5 g de DHA (que pode ser considerada uma dose média-alta). Ainda não sabemos se uma dose mais baixa ou alta teria um efeito maior ou menor, mas esta é uma base pela qual se poderá começar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Os Suplementos Termogénicos Funcionam?

A obesidade encontra-se classificada como uma doença crónica cuja prevalência tem vindo a aumentar ao ponto de atualmente ser considerada uma pandemia. ¹ Atualmente, verifica-se que a maioria da população europeia (60%) encontra-se na categoria de pré-obesidade, ou obesidade. ¹ Em Portugal o cenário é relativamente similar, com 57,1% dos indivíduos a apresentar um índice de massa corporal ≥25 kg/m². ²   Logicamente, esta população numerosa representa um mercado apetecível para as empresas envolvidas na produção e/ou comercialização de suplementos alimentares, que ambicionem aumentar as suas vendas.  Do conjunto de suplementos direcionados para a perda de peso/gordura, destacam-se os termogénicos, os quais, supostamente, promovem um aumento da lipólise através de um aumento do metabolismo, induzido por determinados compostos presentes nesses suplementos.  Mas será que os suplementos termogénicos efetivamente facilitam a perda de peso ou de gordura em indivíduos pré-obesos ...

Quantidades Mais Elevadas de Proteína Afetam Negativamente a Saúde a Longo Prazo?

Afirma-se com alguma frequência que ingestão de quantidades relativamente mais elevadas de proteína tem um impacto negativo na saúde, sobretudo a médio-longo prazo.  Entre os putativos efeitos negativos temos, por exemplo, perturbações a nível renal, problemas cardiovasculares, maior probabilidade de problemas de saúde na velhice incluindo menor saúde metabólica, menor longevidade e outros.( 1 )  Mas será que uma maior ingestão de proteína realmente prejudica a saúde a longo prazo?  Kitada et al. (2024)  Recentemente, foi publicado um estudo que pretendeu avaliar os efeitos da ingestão de proteína a longo prazo, no envelhecimento de 3721 mulheres que participaram no famoso estudo prospetivo Nurses Health Study.  Mais precisamente, estes investigadores pretenderam testar a hipótese de que uma ingestão mais elevada de proteína se associa a uma maior probabilidade de envelhecimento saudável.  Neste caso, envelhecimento saudável correspondia a uma boa saúde me...

Os BCAAs São Úteis Para Praticantes de Musculação?

Pode-se afirmar que os aminoácidos representam os blocos de construção do músculo esquelético e de outras proteínas que integram o corpo humano.  De um total de 20 diferentes aminoácidos que podem formar as diversas proteínas presentes no corpo humano, 9 são considerados “aminoácidos essenciais” por não poderem ser sintetizadas nos tecidos corporais e têm obrigatoriamente de ser obtidas a partir da dieta.  No conjunto de 9 aminoácidos essenciais incluem-se os aminoácidos de cadeia ramificada. São eles a leucina, isoleucina e valina, e constituem cerca de 14% do total de aminoácidos que constituem as proteínas do músculo esquelético.  Os aminoácidos de cadeia ramificada, ou BCAAs, são dos suplementos mais consumidos (36,8%) pelos portugueses que frequentam os ginásios.  A sua popularidade baseia-se na crença, alimentada por campanhas de marketing financiadas por empresas de suplementos, de que os BCAAs têm propriedades anabólicas e anti-catabólicas. Kaspy et al. (2023...