É do conhecimento comum que a prática de exercício físico pode proporcionar vários benefícios para a saúde, melhorar a qualidade de vida e reduzir o risco de vir a desenvolver várias doenças (1).
Muitas vezes também se afirma que a prática de atividades físicas pode ajudar a atrasar o processo de envelhecimento, mas será verdade? Será assim tão simples?
O que é envelhecimento?
Atualmente ainda não são conhecidos todos os detalhes que governam o processo complexo que é o envelhecimento . No entanto, este parece estar associado a uma diminuição do tamanho dos telómeros.
Os telómeros são moléculas que se encontram na parte final de cada cromossoma e que protegem o genoma da deterioração. Desempenham, portanto, um papel crucial na proteção e manutenção das informações que se encontram no nosso genoma.
Acontece que, após cada divisão celular, perde-se uma pequena porção do ADN dos telómeros. Por isso, o comprimento dos telómeros vai-se reduzindo de forma progressiva ao longo dos anos e isso está associado a um maior risco de vir a sofrer de várias doenças, tais como o cancro, e a uma diminuição das probabilidades de sobrevivência.
No entanto, o estilo de vida, mais precisamente uma alimentação adequada e a prática de exercício físico moderado, poderá reduzir de forma significativa o ritmo de encurtamento dos telómeros, o que por sua vez poderá proporcionar uma redução do risco de várias doenças e uma maior longevidade (2).
O exercício físico atrasa o envelhecimento?
Uma vez que o estilo de vida pode influenciar a biologia dos telómeros, e uma vez que a prática de atividades físicas tem um grande impacto nas células que envolvem o sistema músculo-esquelético, podemos imaginar que o exercício físico também pode afetar a evolução do comprimento dos telómeros a longo da nossa vida.
Vários estudos observaram uma redução significativa do comprimento dos telómeros do músculo esquelético nos idosos, em comparação com indivíduos jovens (3).
Também se verificou que o sedentarismo aumenta de forma bastante significativa o risco de várias doenças associadas ao envelhecimento, tais como o cancro, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e osteoporose (4).
Dito isto, noutro estudo, os investigadores observaram uma redução do risco de várias doenças e um menor risco de mortalidade nos indivíduos idosos que iniciaram a prática de atividades físicas (5, 6).
Vários estudos epidemiológicos realizados nos últimos anos observaram a existência de uma associação positiva entre a prática de atividade física moderada e um maior comprimento dos telómeros (7, 8).
Outro estudo verificou ainda que, a prática habitual de exercício, nos últimos 5 anos, está associada de forma significativa a telómeros mais compridos (9).
Esse estudo verificou também que a prática não habitual ou de curta duração de atividade física não parece proporcionar um estímulo suficiente para provocar mudanças na dimensão dos telómeros. Parece ser necessário realizar exercício físico de forma consistente ao longo de 5 anos ou mais, para se obter um efeito protetor (9).
Em relação ao exercício resistido (com pesos), um estudo comparou o comprimento dos telómeros do músculo vasto lateral atletas de powerlifting, com indivíduos normais, fisicamente ativos, e verificou-se que esses atletas de powerlifting, que já treinavam há cerca de 8 anos, têm tendência a ter telómeros mais compridos do que os indivíduos normais (10).
Em relação ao aumento da produção de moléculas oxidantes (espécies reactivas de oxigénio), provocada pela contração muscular durante a prática de atividades físicas, em princípio, estas provocam danos nos tecidos muscular e poderiam provocar uma diminuição do comprimento dos telómeros e, desta forma acelerar o envelhecimento.
No entanto, o corpo responde ao exercício físico intenso aumentando o nível de atividade dos seus sistemas de defensa antioxidantes que se encontram nos músculos. Isto torna possível manter o equilíbrio oxidante-antioxidante durante os treinos e a evitar o envelhecimento precoce (11).
O exercício excessivo poderá acelerar o envelhecimentoexcesso de treino
Parece que o exercício físico excessivo tem o efeito oposto do exercício físico moderado. Por exemplo, um estudo publicado em 2003 provou, através de biopsias musculares, que os atletas de resistência que treinam em excesso, e que, devido a isso sofrem de fadiga crónica, têm um DNA com telómeros mais curtos em comparação com outros atletas de resistência que não sofrem de fadiga associada à prática de exercício físico (11).
Outro estudo, realizado mais tarde pelo mesmo grupo de investigadores, observou uma redução do tamanho dos telómeros nos atletas de resistência de resistência que tinham passado o maior número de anos e de horas a treinar.
Esses investigadores afirmaram que:
Esses resultados indicam que o treino de resistência de longa duração, realizado por atletas de elite, poderá provocar um stress excessivo ao músculo esquelético e/ou aos telómeros das células-satélite, tal como sugerido pelo menor comprimento do telómeros.
Outra investigação também comprovou que, os powerlifters de elite, que levantavam cargas mais elevadas (1RM), tinham tendência a ter telómeros mais curtos. O tamanho dos telómeros foi inversamente associado a recordes pessoais no agachamento e levantamento terra (12).
Ou seja, parece os níveis excessivos de atividade física, nomeadamente de treinos com pesos, tais como a musculação e o powerlifting, está a associada a telómeros mais curtos (13).
Dito isto, parece que, pelo menos no que diz respeito ao tamanho dos telómeros, convém não levar os treinos até um limite demasiado elevado em termos de intensidade e/ou duração dos treinos.
Conclusão
Ainda há muito por investigar e descobrir em relação a este tema. O que se pode afirmar atualmente, com alguma certeza, é que a prática de exercício físico, não excessivo, atrasa e reduz o risco de vir a sofrer de vários problemas de saúde sérios, associados ao envelhecimento, tais como doenças cardiovasculares e diabetes do tipo II. Estas doenças, por sua vez, estão associadas a uma redução do tamanho dos telómeros.
Também ficou provado, através dos vários estudos que referi neste artigo, que a prática de exercício físico tem uma grande influência nos telómeros, embora o excesso de atividade física possa ter o efeito de reduzir o tamanho dos telómeros, enquanto a atividade física moderada poderá ter um efeito positivo.
Mais uma vez, verificamos que mais nem sempre é melhor. Caso se sinta cronicamente fatigado, é bastante provável que esteja a reduzir o tamanho dos seus telómeros e, consequentemente, a reduzir a sua longevidade em vez de a prolongar.
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