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O exercício físico afeta a velocidade da digestão?

 A possível influência do exercício físico na velocidade da digestão é um tema que desperta o interesse desde tempos longíquos.1

Conta a história que, no século 13, o imperador romano Frederico II realizou uma experiência na qual, após ter proporcionado um bom jantar a dois homens, ordenou a um deles que fosse dormir e ao outro que fosse caçar. Nessa mesma noite estripou-os a ambos, com objetivo de determinar qual dos dois tinha digerido melhor o jantar, tendo-se determinado que tinha sido aquele que tinha dormido.1

Atualmente, este tema tornou-se mais relevante devido à prática generalizada de desporto e da sua influência na sociedade, verificando-se que, de facto, existem vários fatores relacionados com a prática de exercício que podem influenciar o tempo de esvaziamento gástrico.

Antes ou durante o exercício físico

Desde logo, verifica-se que o volume gástrico esvaziado quando se ingere fluídos durante o exercício é significativamente menor do que quando estes são ingeridos antes do exercício.1

Tipo de exercício físico

O tipo de modalidade desportiva também influencia a velocidade de esvaziamento gástrico: 1

  • A caminhada acelera-o de forma significativa comparativamente à corrida e ao ciclismo.
  • É mais lenta no ciclismo, comparativamente à corrida e à caminhada.

Nível de intensidade física

Também parece haver uma relação inversa entre a intensidade do exercício e o tempo de esvaziamento gástrico.1,2

  • A intensidades mais baixas (<40 % do VO2max), o esvaziamento é mais rápido.
  • A intensidades moderadas (40–70 % do VO2max) o efeito é menos forte e consistente.
  • A intensidades elevadas (>70% do VO2max), o esvaziamento é mais lento.

Duração do exercício

À medida que a duração do exercício aumenta, o esvaziamento gástrico torna-se mais lento. Isso poderá dever-se à progressiva diminuição da circulação sanguínea nos intestinos, à medida que o exercício prossegue.3 4

Temperatura ambiente

A velocidade de esvaziamento e o fluxo sanguíneo gástrico parecem diminuir durante e após a realização de exercício em ambientes quentes, provavelmente devido a um maior desvio do fluxo sanguíneo para a pele, para suportar a termorregulação corporal.5 4

Propriedades dos alimentos e bebidas

A quantidade, bem como o tipo de alimentos e bebidas ingeridos também podem influenciar o trânsito gastrointestinal.

Volume: Um maior volume ingerido durante a atividade física associa-se a um esvaziamento gástrico mais lento.1

Osmolalidade: Uma maior osmolalidade poderá potenciar os efeitos inibitórios do exercício no esvaziamento gástrico e associa-se a um esvaziamento gástrico mais baixo durante o exercício.1

Conteúdo de energia: Um teor de energia mais elevado parece retardar o esvaziamento gástrico.6

Teor de hidratos de carbono: Uma concentração mais elevada de hidratos de carbono está a associada a uma diminuição do esvaziamento gástrico.7,8

Teor de gordura: Um maior teor de gordura associa-se a um esvaziamento gástrico mais lento.9-12

Quais os mecanismos?

Os mecanismos que poderiam contribuir para as alterações induzidas pelo exercício no tempo de esvaziamento gástrico incluem:

  • Fatores hormonais.13-16
  • Atividade mioeléctrica gástrica.17,18
  • Efeitos mecânicos (“balançar o abdómen”).13,14,19,20
  • Fatores neurais (de origem principalmente vagal).21
  • Mudanças nas frequências de contração no antrum gástrico.22
  • Redução do fluxo sanguíneo esplâncnico,19,23 o que por sua vez diminui a disponibilidade de oxigénio e energia.24

Resumo

Resumindo, verifica-se que os seguintes fatores se associam a um aumento do tempo de esvaziamento gástrico:

  • Temperatura ambiente elevada.
  • Osmolalidade elevada das bebidas.
  • Alimentos ricos em gordura e/ou fibra.
  • Ingestão de volumes elevados de comida e/ou bebida.
  • Duração prolongada do exercício físico.
  • Nível de intensidade física elevado, principalmente no ciclismo, mas também na corrida.
➤ Mostrar/Ocultar Referências!
  1. Horner KM, Schubert MM, Desbrow B, Byrne NM, King NA. Acute exercise and gastric emptying: a meta-analysis and implications for appetite control. Sports medicine (Auckland, NZ). 2015;45(5):659-678.
  2. Rehrer NJ, Laughlin JM, Wasse LK. Importance of gastrointestinal function to athletic performance and health. The encyclopaedia of sports medicine: an IOC medical commission publication. 2013;19:526-538.
  3. Brouns F, Beckers E. Is the gut an athletic organ? Digestion, absorption and exercise. Sports medicine (Auckland, NZ). 1993;15(4):242-257.
  4. Rowell LB, Blackmon JR, Bruce RA. INDOCYANINE GREEN CLEARANCE AND ESTIMATED HEPATIC BLOOD FLOW DURING MILD TO MAXIMAL EXERCISE IN UPRIGHT MAN. The Journal of clinical investigation. 1964;43(8):1677-1690.
  5. Rehrer NJ, Beckers EJ, Brouns F, ten Hoor F, Saris WH. Effects of dehydration on gastric emptying and gastrointestinal distress while running. Medicine and science in sports and exercise. 1990;22(6):790-795.
  6. Velchik MG, Reynolds JC, Alavi A. The effect of meal energy content on gastric emptying. Journal of nuclear medicine : official publication, Society of Nuclear Medicine. 1989;30(6):1106-1110.
  7. Vist GE, Maughan RJ. The effect of osmolality and carbohydrate content on the rate of gastric emptying of liquids in man. The Journal of physiology. 1995;486 ( Pt 2):523-531.
  8. Vist GE, Maughan RJ. Gastric emptying of ingested solutions in man: effect of beverage glucose concentration. Medicine and science in sports and exercise. 1994;26(10):1269-1273.
  9. Kroop HS, Long WB, Alavi A, Hansell JR. Effect of water and fat on gastric emptying of solid meals. Gastroenterology. 1979;77(5):997-1000.
  10. Lodefalk M, Aman J, Bang P. Effects of fat supplementation on glycaemic response and gastric emptying in adolescents with Type 1 diabetes. Diabetic medicine : a journal of the British Diabetic Association. 2008;25(9):1030-1035.
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  13. Leiper JB, Broad NP, Maughan RJ. Effect of intermittent high-intensity exercise on gastric emptying in man. Medicine and science in sports and exercise. 2001;33(8):1270-1278.
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