Perder peso é difícil, mas o verdadeiro desafio é manter a perda de peso a longo prazo, sendo que, ao longo do tempo, a maior parte dos indivíduos irá recuperar o peso perdido(1).
Na ausência de esforços para restringir a ingestão alimentar após a perda de peso, irá ocorrer um aumento da ingestão alimentar que se fará acompanhar por uma recuperação do peso perdido(2).
Por exemplo, verificou-se que o apetite aumenta em cerca de 100 kcal/dia acima da linha de base por cada kg de peso perdido, o que representa um desafio na perda de peso(2).
Apesar disso, existem estratégias alimentares que podem ajudar a perder peso ou a evitar o reganho do peso perdido:
Opte por alimentos com baixa densidade energética
A densidade energética dos alimentos é definida pelo teor energético (em Kcal) por unidade de peso (g ou 100g) e foi demonstrado que a ingestão de alimentos com uma elevada densidade energética aumenta a ingestão de energia e promove o ganho de peso comparativamente a alimentos com baixa densidade energética (ex. frutas, vegetais, cereais integrais)(3).
Verificou-se ainda que o consumo de uma maior proporção de energia a partir dos vegetais, parece promover uma maior perda de peso e reduzir o risco de ganho de peso(4).
Assim, dar preferência a alimentos de baixa densidade energética é uma forma simples, mas eficiente de controlar o peso nos indivíduos com obesidade que pretendem perder peso e as estratégias dietéticas baseadas na densidade energética dos alimentos mostram forte evidência de que podem reduzir o peso corporal e prevenir a recuperação do peso perdido(3).
De facto, vários estudos demonstraram que a quantidade total de comida é o principal fator que influencia a saciedade e que a ingestão de alimentos com baixa densidade energética conduz a uma redução da ingestão de energia em indivíduos obesos(3).
Tome o pequeno-almoço de forma regular
Ingerir uma maior quantidade de calorias ao pequeno-almoço, comparativamente à sua ingestão ao jantar parece reduzir o risco de excesso de peso(2, 5).
Para além disso, “saltar” o pequeno-almoço associa-se a um maior risco de obesidade(6).
Aumente a ingestão de fibra
Alguns trabalhos sugerem que o aumento da ingestão de fibra reduz o risco de ganho de peso e de gordura, sendo que a fibra parece ajudar a reduzir a ingestão de energia ao longo do tempo(7-10).
As fibras dietéticas baixam a densidade energética dos alimentos uma vez que não são absorvidas no intestino delgado. A mastigação de alimentos ricos em fibra requer mais tempo e esforço o que promove uma maior sensação de saciedade(11, 12).
Uma vez que as fibras viscosas absorvem grandes quantidades de água, também provocam distensão do estômago e atrasam o esvaziamento gástrico, o que também promove uma maior saciedade(11, 12).
Ingira 0,5l de água antes das refeições
Começar por ingerir cerca ½ litro de água, 30 minutos antes ou imediatamente antes de iniciar as refeições, pode efetivamente aumentar a saciedade, reduzir a fome e verificou-se que pode reduzir a ingestão de energia em cerca de 13% a 22%, podendo constituir uma estratégia simples e eficiente no controlo do peso(13, 14).
Aumente a ingestão diária de água
Alguma da literatura científica existente oferece suporte a esta estratégia como forma de potenciar a perda de peso. Entre os mecanismos que podem ajudar a explicar a eficácia desta medida temos um aumento do metabolismo, que poderá potenciar a lipólise(15).
Por outro lado, a desidratação crónica, juntamente com o consequente aumento dos níveis de angiotensina II, associa-se a aumento do risco de obesidade e de outras doenças como diabetes, cancro e doenças cardiovasculares(15).
Comece por comer a sopa
Iniciar a refeição com a ingestão de uma sopa pouco densa em calorias pode permitir uma redução de cerca de 20% do valor energético total da refeição em comparação com a não ingestão de sopa(16, 17).
Para além disso, esta estratégia também poderá permitirá assegurar e aumentar a ingestão de vegetais(16, 17).
Siga uma dieta rica em proteína
Várias meta-análises demonstraram que a ingestão de uma dose elevada de proteína (1,2 a 1,6g/Kg de peso corporal), com pelo menos cerca de 25 a 30 g de proteína por refeição proporciona uma maior perda de peso, de massa gorda, da cintura e também permite preservar uma maior quantidade de massa magra, durante dietas para perda de peso(18, 19).
Para além disso as refeições ricas em proteína também reduzem o apetite e promovem uma maior sensação de saciedade(18, 19).
Ingera lacticínios
Uma meta-análise recente concluiu que a ingestão de mais de 500 ml de lacticínios por dia pode aumentar a saciedade, o que poderá estar relacionado com o seu teor de proteína whey e caseína(20).
Opte pelos alimentos com maior índice de saciedade
A ingestão de diferentes alimentos pode ter efeitos diferentes na saciedade mesmo ingerindo uma quantidade que fornece a mesma quantidade de energia.
De uma forma geral, verifica-se que os alimentos com teor mais elevado de proteína, fibra e água são os que mais saciam o apetite(21).
Mais especificamente, dentro de cada categoria, verificou-se que, as batatas cozidas, o peixe, as papas de aveia, a laranja e as pipocas foram os alimentos que obtiveram um índice de saciedade mais elevado e a sua ingestão de alimentos mais saciantes pode ajudar na prevenção e tratamento do excesso de peso e obesidade(21).
Opte por alimentos minimamente processados
Os resultados de um estudo recente sugerem que, quanto mais processado for um alimento, maior será a resposta glicémica e mais baixo será o seu potencial de saciedade(22).
Assim, recomenda-se a ingestão de alimentos minimamente processados, por estes serem mais saciantes, em detrimentos de alimentos mais processados, de origem industrial(22).
Coma devagar
A ingestão rápida de comida está associada a uma maior circunferência de cintura e a um índice de massa curoporal mais elevado (IMC)(23, 24). Para além disso, uma ingestão lenta pode reduzir a ingestão energética numa determinada refeição e diminuir a sensação de fome 60 minutos após o início de uma refeição(25).
Portanto, recomenda-se que os alimentos sejam sempre bem mastigados e que a sua ingestão seja feita de forma lenta(23).
Evite o aborrecimento
Vários estudos sugerem que tendemos a optar mais por opções menos saudáveis quando estamos aborrecidos(26).
Uma teoria sugere que o aborrecimento associa-se a níveis mais reduzidos de dopamina e que as pessoas tentam compensar esses níveis mais baixos através da ingestão de alimentos ricos em açúcar e gordura(26).
Conclusão
Estas estratégias alimentares são relativamente fáceis de implementar e, embora nem todos os estudos suportem a sua eficácia, é bastante provável que a adoção de algumas destas estratégias possa proporcionar uma melhoria do controlo do peso.
Apesar disso e para melhores resultados, não hesite em consultar um nutricionista, de forma a obter aconselhamento nutricional especializado e um plano alimentar nutricionalmente equilibrado e adequado às suas características individuais.
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